Data 8 a 30 de outubro 2016
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"Entre paredes #11"
Acrílico sobre tela
100 x 90 cm
2016
“A Casa”
«O mundo não é mais que quatro paredes, que se
transportam connosco; um lugar sempre fechado». Irene Lisboa
A casa
é o lugar íntimo catalisador do processo criativo. Este espaço estruturante da
identidade, que abriga e protege o amor, está intimamente ligado a todas as nossas memórias e
vivências interiores uma vez que é neste território que os laços e os sentimentos
se cimentam, contendo narrativas que evocam cheiros, afetos, texturas,
segredos, fragilidades, sabores e sonhos que habitam na alma.
Este
refúgio amigável e espaço organizador – “A Casa” – alberga dois cenários: a
«pintura» e «para lá da pintura». A «pintura» materializa apontamentos
narrativos apresentando interiores de habitações sempre com a presença feminina.
Os ambientes arquitetónicos aparentemente vazios entre cortinas ou janelas
entreabertas evidenciam territórios e objetos domésticos identificáveis – sala,
quarto, porta, mobiliário, loiças, vestuário – que remetem para recantos
protetores do quotidiano íntimo das figuras; uma quase solidão, um diálogo
interior. O pano de
fundo imaginável, por entre a contaminação do primeiro plano, cita lugares triviais e seguros
exibindo poses comuns do aconchego ou da interioridade feminina. «Para lá da
pintura» apresenta uma multiplicidade de técnicas – bordado, assemblage,
instalação – que materializam e humanizam memórias de infância e que se
articulam através de objetos apropriados, alguns ligados ao lavor feminino da
hierarquia avó-mãe e outros de caráter kitsch, decorativo ou doméstico,
assentes em paradigmas de construções sociais de género. A casa, aqui, aparece
como um lugar de clausura gerador de uma ideologia de feminilidade e de
domesticidade, em que as técnicas manuais – processo monótono, repetitivo e
lento – desvendam histórias e sentimentos de mulheres anónimas, conhecidas ou
familiares, levantando questões do seu mundo privado. Trata-se, pois, de um trabalho
com uma carga narrativa autobiográfica que, também, aborda estereótipos de amor
e romance encontrados em literatura, mitos ou brinquedos infantis por meio de
fusões e reminiscências de vários processos artísticos que remetem para
práticas e sensibilidades femininas, evocando a esfera doméstica.
“A Casa” enraíza-nos
no espaço íntimo do quotidiano feminino através de cenografias e objetos vulgares,
que por momentos adotamos como nossos, multiplicando-se as possibilidades narrativas
e permitindo a entrada num universo que nos é familiar.
Lara
Roseiro
Janeiro
2016
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